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A gênese do curso de Oceanologia da FURG está na Sociedade de Estudos Oceanográficos do Rio Grande – SEORG, criada em 20 de março de 1953 por um grupo de entusiastas, entre os quais estavam Eliezer de Carvalho Rios, Boaventura Barcellos, Nicolas Vilhar e Cícero Vassão [1], que já há algum tempo pensavam em implantar na região um centro para estudos ligados ao oceano. Com o apoio da Prefeitura Municipal, que cedeu o prédio localizado no interior da Praça Tamandaré, onde permaneceu de 1953 a 1972, o Museu Oceanográfico passou a desenvolver pesquisas de laboratório e implantou uma exposição com seu acervo para visitação, contribuindo para despertar na população local o interesse pelas ciências do mar.

A estrutura e prática já utilizadas para a pesquisa oceanográfica desde os anos 1950 foi o embrião do curso de Oceanologia, que viria a ser criado pela Universidade de Rio Grande em 27 de agosto de 1970. Na falta de referências curriculares no Brasil, o Prof. Pery Riet Correa, da Faculdade de Medicina, enviou correspondências para centros universitários de diversos países, entre os quais Estados Unidos da América, França e Rússia, obtendo retorno de algumas universidades, inclusive com o oferecimento de apoio de pesquisadores para a organização do novo curso e a formação de recursos humanos.

Em maio de 1970, o jornal Rio Grande conclamou a mobilização da comunidade local: “... a Congregação da Faculdade de Filosofia aprovou a criação dos cursos de Oceanologia e Ciências Biológicas, dando início assim a realização de uma das aspirações mais altas da comunidade rio-grandina, que em várias oportunidades se manifestou a respeito, através deste jornal. A decisão será agora encaminhada ao Conselho Universitário para a devida aprovação. [2] É anunciada para o próximo ano a entrada da primeira turma do Curso.

 

“O curso de Oceanologia da Universidade de Rio Grande vai iniciar-se e, alentadoramente, conta com um número muito expressivo de candidatos. Estes serão os primeiros oceanólogos do Brasil (...) O curso de Oceanologia nasceu de muita luta. De muita divulgação da sua necessidade e, especialmente, da sua localização privilegiada nesta parte da costa brasileira, onde os estudos são avançados de tudo o que se relaciona com o mar. (...) A comunidade acompanhou, por muitas das nossas edições, o que foi a criação do curso de Oceanologia. Desde que a idéia surgiu, até o momento em que se tornou realidade.” [3]

 

Eram momentos de grande desenvolvimento da indústria pesqueira no município de Rio Grande, fortemente influenciado pela criação da Superintendência de Desenvolvimento Pesqueiro – SUDEPE, em 1962, e pelos incentivos fiscais previstos no Decreto-Lei n° 221, de 1967. O capital disponibilizado para o setor foi aproveitado pelo empresariado local, que consolidou em Rio Grande uma indústria pesqueira que adquiriu projeção nacional, uma vez que o município apresentava as condições necessárias para a ampliação de seu parque produtivo, notadamente matéria-prima abundante e mão de obra qualificada para a captura e processamento de pescado.

No seu auge, a indústria pesqueira localizada na região chegou a empregar cerca de 20 mil trabalhadores. O avanço tecnológico e o acesso livre ao mar territorial do Uruguai e da Argentina elevaram rapidamente a captura que, em 1970, chegou a 120 mil toneladas. Entretanto, a delimitação do mar territorial brasileiro em 200 milhas, no início da década de 1970, levou o Uruguai e a Argentina a imporem restrições às capturas em suas águas territoriais, reduzindo drasticamente a área de captura das embarcações brasileiras, especialmente daquelas baseadas em Rio Grande. Foi o início do declínio da indústria pesqueira local, que foi agravando-se com a sobrepesca dos principais estoques da costa sul do Brasil e com a retirada dos incentivos fiscais por parte do Governo Federal. Na metade da década de 1980, as capturas anuais já eram inferiores a 90 mil toneladas, caindo sucessivamente nos anos seguintes.

O Prof. Eliézer de Carvalho Rios, que atuava no curso de Engenharia Industrial, foi indicado para assumir o cargo de Diretor do curso de Oceanologia e coordenar as medidas administrativas para seu funcionamento. A primeira turma era constituída, em sua maioria, por acadêmicos da cidade ou do Rio Grande do Sul. As aulas tiveram início no dia 1° de março de 1971. A aula inaugural, que teve por título “Novos Mundos da Oceanografia”, foi proferida no auditório da Biblioteca Rio-Grandense pelo Diretor do curso.

 


Bixos da primeira turma do curso de Oceanologia

 

A história destes 40 anos de atividade do curso de graduação em Oceanologia da FURG está registrada em imagens nas páginas do livro lançado [4] por ocasião das festividades alusivas a data, que ocorreram durante o IV Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO 2010, realizado de 17 a 21 de maio de 2010 na FURG. Embora todos os fatos ali registrados sejam marcantes, alguns deles foram decisivos para a consolidação da excelência do ensino e prestígio que o curso de Oceanologia possui no cenário nacional e internacional, entre os quais:

- a Colação de Grau, em 14 de novembro de 1974, da primeira turma de oceanógrafos;

- a criação da Associação Brasileira de Oceanografia – AOCEANO, em 12 de abril de 1975, por um grupo de egressos do curso de Oceanologia;

- o reconhecimento do curso de Oceanologia pelo Decreto n° 76.028, de 25 de Julho de 1975, primeiro da modalidade no Brasil;

- a chegada ao Porto de Rio Grande, em 25 de fevereiro de 1978, do Navio de Pesquisa Atlântico Sul;

- a inauguração da Base Oceanográfica Atlântica – B.O.A. em 28 de abril de 1978;

- a chegada ao Porto de Rio Grande, em setembro de 1978; das Lanchas Oceanográficas Larus e Sagitta;

- a transferência do curso de Oceanologia, em março de 1981, para o Campus Carreiros;

- a entrada em vigor, em março de 1989, da nova estrutura curricular do curso de Oceanologia, contemplando Habilitações em Recursos Naturais Renováveis e Gerenciamento Ambiental, obrigatoriedade de Trabalho de Graduação e 180 horas de embarque, com prazo mínimo de integralização de 5 anos;

- o início, em setembro de 1989, das atividades da Estação Marinha de Aquacultura – EMA, localizada no Bairro Cassino;

- a incorporação, na forma de comodato, da Estação da Enseada do Saco do Justino, em junho de 1995;

- o inicio, em 27 de agosto de 1997, dos cruzeiros do Projeto Treinamento Integrado dos Alunos no NOc. Atlântico Sul e L/Oc. Larus, financiado pelo Programa de Apoio à Integração Graduação/Pós-Graduação – PROIN da CAPES/MEC;

- a criação por estudantes do curso de Oceanologia, em maio de 1999, da ECOSERVICE – Empresa Junior de Consultoria Ambiental e Oceanografia, primeira do Brasil neste domínio;

- a entrada em vigor, em março de 2000, de uma nova estrutura curricular para o curso de Oceanologia, contemplando uma formação profissional flexível (sem Habilitações), com integralização de créditos em outras instituições nacionais ou do exterior, a realização de estágio obrigatório fora da academia e prazo mínimo de integralização de 5 anos;

- a realização, em 8 de novembro de 2006, do 1° cruzeiro do Projeto Amazônia Azul: A Experiência Embarcada, parceria entre a FURG e o Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA, propiciando a formação embarcada de estudantes dos demais cursos de Oceanografia do Brasil;

- a sanção, em 31 de julho de 2008, da Lei n° 11.760, que regulamenta o exercício da profissão de Oceanógrafo no Brasil;

- a realização, em 19 de maio de 2010, da Solenidade de Reconfirmação de Grau das 36 turmas de Oceanógrafos formados pela FURG, ápice das festividades de comemoração dos 40 anos de criação do curso de Oceanologia;

- a Colação de Grau, em 20 de abril de 2011, do 1.000° egresso do curso de Oceanologia.

 

Solenidade de Reconfirmação de Grau dos egressos do curso de Oceanologia

 

O acompanhamento da atividade profissional dos egressos do curso de Oceanologia, que é atualizado periodicamente pela coordenação [5], mostra que é cada vez maior a inserção no mercado de trabalho, tanto no país como no exterior, sendo raro o estado brasileiro, independente de ser ou não costeiro, onde não há um ex-alunos da FURG desenvolvendo atividades próprias da sua formação. O último levantamento efetuado revelou que 77,48% dos egressos permaneciam na área, sendo 60,04% desenvolvendo atividades profissionais e os demais realizando pós-graduação ou buscando trabalho. O estudo mostrou que embora o setor público, em todas as suas esferas, ainda seja o maior empregador, vem perdendo espaço para o setor privado e para o 3° setor da economia, que cada vez mais buscam oceanógrafos para atender as suas demandas por trabalho.

O curso de Oceanologia é reconhecido como um dos melhores do país na modalidade, o que pode ser justificado pela qualidade do seu corpo docente (86,67% dos 75 que atuaram no curso em 2010 têm título do doutor), pela excelente infraestrutura disponível (inclui o NOc. Atlântico Sul e uma diversificada gama de equipamentos e laboratórios que abrangem os temas mais relevantes da ciência oceanográfica) e pelo Projeto Político Pedagógico Pedagógico em vigor (único a exigir que o estágio profissional seja realizado fora da academia). É, por isso mesmo, um curso que atraí estudantes de todo o país e do exterior, que ao sair de Rio Grande levam consigo uma sólida formação profissional e uma experiência de vida singular.

[1] Revista do Globo, 08 de setembro de 1956, p.69.

[2] Jornal Rio Grande. Rio Grande, 24 de março de 1970.

[3] Jornal Rio Grande. Rio Grande, janeiro de 1971.

[4] CALAZANS, D. K.; KRUG, L.C.; TORRES, L. H.. Curso de Oceanologia: 40 Anos de História. 1. ed. Coan - Indústria Gráfica, 2010. 184p. Disponível em http://www.oceano.furg.br/.

[5] KRUG, L.C. . O Mercado de Trabalho na Área de Ciências do Mar: Situação Presente e Perspectivas. In: Anais do I Encontro de Coordenadores de Graduação e Pós-Graduação em Ciências do Mar - I EnCoGrad-Mar, 2007, Fortaleza/CE. p.185-203. Disponível em http//:www.oceanografia.furg.br/cdmb.

 Adaptado de "Curso de Oceanologia: 40 Anos de História" por KRUG, L.C. & CALAZANS, D.K.